Teste de avaliação – Texto Narrativo (1)
GRUPO I
Lê o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado
O Kazukuta
Para o tio Joaquim
Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas1 e das goiabas1, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.
Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol pra lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali na casota meio triste, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.
Acho que o Kazukuta era um cão triste porque é assim que me lembro dele. Nós não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando. Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele tinha alergia ou medo, não sei, devia perguntar ao tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e cada vez andava só a dormir mais.
Um dia era de tarde e vi o tio Joaquim dar banho ao Kazukuta. Um banho de demorar. Fiquei espantado: o tio Joaquim que ficava até tarde a ler na sala, o tio Joaquim que nos puxava as orelhas, o tio Joaquim silencioso, como é que ele podia ficar meia hora a dar banho ao Kazukuta?
Lembro o Kazukuta a adorar aquele banho, deve ser porque era um banho sincero, deve ser porque o tio punha devagarinho frases ao Kazukuta, e ele depois ia adormecer.
Kazukuta: lembro bem os teus olhos doces a brilhar tipo um mar de sonho só porque o tio Joaquim – o tio Joaquim silencioso – veio te dar banho de mangueira e te falou palavras tranquilas num kimbundu2 assim com cheiros da infância dele.
E demorou. Nós já estávamos quase a parar a nossa brincadeira.
Porque afinal a água caía nos pelos do Kazukuta, e os pelos ficavam assim coladinhos ao corpo, e virados para baixo como se já fossem muito pesados, e a água acabou, não tinha mais, e mesmo sem fechar a torneira o tio Joaquim, com a mangueira ainda a pingar as últimas gotas dela, e no regresso do Kazukuta à casota, depois daquele abano tipo chuvisco de nós rirmos, o Tio Joaquim deu a notícia que tinha demorado aquele tempo todo para falar:
Meninos, a tia Maria morreu.
Até tive medo, não daquela notícia assim muito séria, mas do que alguém perguntou:
– Mas podemos continuar a brincar só mais um bocadinho? O tio largou a mangueira, veio nos fazer festinhas.
Sim, podem.
Vi um sorriso pequenino na boca dele. Às vezes ele aparecia no quintal sem fazer ruído e espreitava a nossa brincadeira sem corrigir nada. Olhava de longe como se fosse uma criança quieta com inveja de vir brincar connosco também.
O tio Joaquim era muito calado e sorria devagarinho como se nunca soubesse nada das horas e das pressas dos outros adultos. O tio Joaquim gostava muito de dar banho ao Kazukuta.
Ondjaki, Os da Minha Rua, LeYa
VOCABULÁRIO
1 pitangas, goiabas – frutos.
2 Kimbundu – língua da região de Luanda.
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. Seleciona, em cada item, a alternativa que permite obter a afirmação adequada ao sentido do texto.
1.1 O Kazukuta acordava
- porque tinha fome.
- devido ao barulho da fruta a cair.
- visto que o tio Joaquim o chamava.
- devido aos gritos e à correria das crianças.
1.2 Normalmente, o Kazukuta
- comia a melhor fruta que caía da árvore.
- comia os restos da fruta que ninguém queria.
- devorava a fruta que as crianças lhe davam.
- não comia fruta.
1.3 De uma forma geral, o sentimento que as crianças e os adultos nutriam por Kazukuta era de
- indiferença.
- admiração.
- preocupação.
- carinho
1.4 «… eu pensava que, se calhar, o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar.» (linhas 10-12)
Na frase transcrita está presente um recurso expressivo intitulado
- anáfora.
- antítese.
- personificação.
- eufemismo
2. narrador do conto é participante.
Diz se esta afirmação é falsa ou verdadeira, justificando a tua resposta.
3. Um dia, o narrador foi surpreendido pelo facto de o tio Joaquim dar banho ao Kazukuta.
Refere as razões da surpresa do menino.
4. De acordo com o texto, seleciona as quatro palavras que podem completar a frase seguinte.
O tio Joaquim, quando dava banho ao Kazukuta, parecia
dedicado
desinteressado
apressado
paciente
nervoso
terno
indiferente
afetuoso
5. A determinada altura, o narrador dirige-se diretamente a Kazukuta. Transcreve uma passagem do texto que comprove esta afirmação.
6. Ao longo da narrativa, é possível identificar diversas características de Kazukuta. Com base nos dados que o texto te vai fornecendo, elabora o retrato do cão que dá nome a este conto.
7. O narrador recupera, através da memória, um episódio da sua infância. Terá este episódio sido importante para o menino?
Apresenta a tua opinião relativamente a esta questão. Justifica a tua resposta.
GRUPO II
1. Duas das quatro frases seguintes contêm um nome não contável. Escreve as duas letras correspondentes às opções que escolheres.
«Ele tinha uma certa vergonha de se apresentar ao pai com uma noz enquanto os irmãos levavam o cânhamo fiado.»
«… a rã esperava-o numa carruagem feita de uma folha de figueira puxada por quatro caracóis.»
«…as noivas vieram todas carregadas de plumas e de joias.»
«E a rã saltou para fora da água em cima de uma folha.»
2. Preenche a coluna B da grelha, indicando um adjetivo que derive dos nomes presentes na coluna A.
A. | B. |
Dia | |
Anel |
3. «Marcaram-se as bodas, os três irmãos no mesmo dia.»
Completa a frase seguinte com um quantificador numeral, de forma a provar que o nome «bodas» é contável.
– Quando nasceram os netos, o rei passou a realizar, no mínimo, _________________ bodas por ano.
4. Reescreve cada uma das frases, substituindo as expressões destacadas por um dos elementos presentes no quadro apresentado.
consigo • convosco • lhes • vos |
O filho mais novo trazia com ele a noz dada pela noiva.
Comprei este livro para ti e para a Maria.
Gostaria de recontar esta história aos meus amigos.
Posso ler o texto contigo e com o António.
5. Completa os espaços seguintes, usando as preposições e contrações preposicionais presentes no quadro. Não deves repetir nenhuma palavra.
sem • de• até • à• da• por |
Nós estávamos sempre ______________ espera ______________ ver a fruta cair. Acordado ______________ nós, o Kazukuta caminhava______________ junto ______________ árvore ______________ fazer nenhum barulho.
GRUPO III
Todos nós guardamos na memória episódios que recordamos porque nos marcaram e continuam a fazer parte do nosso imaginário, por uma ou outra razão.
Escreve um texto narrativo onde recordes um episódio da tua infância, real ou imaginado, respeitando os seguintes aspetos:
- escreve o texto na primeira pessoa;
- identifica e caracteriza as personagens intervenientes;
- localiza as ações no espaço e no tempo;
- sequencia corretamente as ações.
Escreve um texto correto e bem estruturado entre 20 e 30 linhas.
Notas:
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